Postagens

Mostrando postagens de junho, 2017

Tropicália e Cinema Novo: produções e novas criações (identitárias)

Por Cely Pereira e Gabriel Santiago “Desculpe-me, camarada, atrapalhá-lo em sua luta de classes tão importante, mas para qual lado fica o cinema político?”, questiona a atriz alemã Anne Wiazemsky, em francês, a um lusófono Glauber Rocha parado em pose dramática à beira de uma estrada europeia campestre. Como resposta, o cineasta, em português, sem rodeios e intensificando o caos à la Babel, indica, literalmente aos gestos, o caminho para um cinema situado do outro lado do atlântico; cinema esse “perigoso” e, claro, “divino, maravilhoso”. Mudança brusca: o som do ambiente é substituído, em rasgo auditivo, por uma Gal Costa em plenos pulmões, interpretando, sob força do refrão, a canção “Divino Maravilhoso”, composta por Caetano Veloso. Corte. Vento do Leste, filme de 1970, dirigido por Jean-Luc Godard e por diversos colaboradores, a partir da participação de Glauber na cena transcrita, propõe um estudo das possibilidades de  articulação do viés estético cinematográfico “terceiromun

A Reinvenção da Tropicália

Por Laercio Morais Santos No caminho coercitivo de definir um vocábulo, nos deparamos com a Tropicália, uma verdadeira mobilização de sentidos para além das prescrições. À medida que ela promove a ruptura com o conservadorismo, assume o caráter transgressor que lhe é próprio. Defini-la nos coloca em um lugar perigoso; vamos rememorá-la como um movimento político, artístico e social que, apesar de sua pouca duração (1967-1968), vê muitos dos seus manifestos reverberarem até hoje. A coerção que nos leva ao campo das definições, vê-se atravessada por algo muito pior: o silenciamento, tentativa abrupta de cercear a liberdade de expressão. Orlandi (1999, p. 83) aponta que, em todo caso, haverá silêncio acompanhado as palavras, visto que as relações de poder em uma sociedade como a nossa produzem sempre a censura. Essa realidade materializa-se na insistente tentativa da Tropicália de romper com as amarras do silêncio e promover a metacrítica a respeito de concepções artísticas. Ao lo

Tropicália: a instalação e a Nova Objetividade Brasileira

Leticia Carvalho e Gabriel Amorim Tropicália, nome atribuído ao movimento cultural de ruptura que ocorreu no final dos anos 1960, é muito associado ao emblemático disco Tropicália ou Panis et circensis , lançado por figuras marcantes do tropicalismo: Caetano Veloso, Os Mutantes, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão e Tom Zé, ainda com os poetas Capinam e Torquato Neto, e o maestro Rogério Duprat. No entanto, antes do lançamento do disco e da “Geléia geral” do Panis et circensis , Hélio Oiticica, artista plástico e anarquista, expôs a obra “Tropicália”, em 1967, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) junto com outras (os) artistas, costurando o que foi chamado de “Nova Objetividade Brasileira”. A mostra coletiva foi organizada por críticos e artistas, como o próprio Oiticica, Lygia Clark, Carlos Vergara, Lygia Pape, Mário Pedrosa, entre outras(os) participantes da cena artística do eixo Sul-Sudeste, principalmente. No presente texto, nos atentaremos principalmente aos traba

Mural PET-Letras: Tropicália 50 anos

Imagem
A próxima edição do Mural PET-Letras vem em comemoração aos 50 anos da Tropicália! Pra organizar o movimento e orientar o nosso carnaval, o evento acontecerá às 15h do dia 28 de junho no circuito escada-cantina (escada do mural 1º andar do ILUFBA e antiga cantina de Letras) com roda de conversa, troca de experiências e muita música! Além de toda essa mistura ainda teremos a primeira edição do Mural Expandido, vamos assistir documentários e curtas no Labimagem a partir das 9h.

Ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE) no México

Ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE) no México Entrevista com Priscila Machado por Paula Fernandes   Durante seu trajeto na universidade, Priscila Machado foi integrante do grupo PET-Letras e professora em formação do Núcleo Permanente de Extensão em Letras (Nupel) por dois anos, além de ter feito um intercâmbio com duração de seis meses no México. Após se graduar em Letras/Espanhol pela Universidade Federal da Bahia em 2015.2, voltou para a cidade de Guadalajara, México, e, lá, atua como professora de PLE, tradutora e intérprete.   PET-Letras (PET): Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou ao ensinar PLE? Priscila Machado (PM): Quando comecei a ensinar PLE, eu não tinha nenhuma experiência, era algo muito novo para mim, posto que o cerne da minha formação foi o ensino da língua espanhola. Entretanto, toda a prática obtida na minha estância no Nupel e na minha graduação em geral pôde ser adaptada ao meu objetivo durante aulas de PLE. Além disso, obviamente,

Ensino de inglês como língua estrangeira para adultos: relatos

Ensino de inglês como língua estrangeira para adultos: relatos por Isadora Matos   Minha formação, em andamento, como professora de língua inglesa é, em sua maioria, baseada no ensino de inglês como língua estrangeira para adultos. Tive poucos momentos em sala de aula com crianças, porém o meu envolvimento com o idioma, como estudante, ocorreu quando ainda estava na infância e adolescência. Os exemplos de professores e métodos de ensino que tinha, nos primeiros momentos da minha formação como professora, eram pensados para um público infanto-juvenil. Por isso, encontrei (e encontro) alguns desafios ao me deparar com uma turma para adultos. A primeira turma que ensinei era formada por um grupo bem diversificado de alunos, com idades entre 16 e 50 anos – se não me falha a memória. Lembro que meu orientador me alertou para que não ficasse intimidada com alunos mais velhos que poderiam questionar o fato de estarem aprendendo uma segunda língua com alguém bem mais novo que eles – tinha 18 a

Ensino de língua estrangeira na educação infantil: um relato

Ensino de língua estrangeira na educação infantil: um relato por Hilário Zeferino   Quando eu inicialmente respondi a questões como, por exemplo, “Com o que você trabalha?” com “Eu trabalho com ensino de inglês para educação infantil”, vi algumas faces de espanto: ‒ Crianças estudam inglês?! ‒ me perguntaram. ‒ Como elas conseguem aprender?! Porque eu não saí do básico… - Com algumas ressalvas, respondi a essas questões que sim e sim. Estruturalmente, a instituição na qual exerci essa agridoce função admite crianças a partir de um ano de idade, visando inseri-las num ambiente bilíngue. A partir disso, pode-se entender que os estudantes não estão em processo de avaliação, pelo menos até chegarem ao primeiro ano do ensino fundamental. O que é visado é a aquisição dual de línguas, aquisição essa que acontece independentemente de quaisquer questões, quer intrínsecas, quer extrínsecas ao ser humano, dada à consideração de que a tendência natural dos seres humanos é adquirir uma língua natur