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Mostrando postagens de agosto, 2017

Literatura infantil: a construção de identidades em O menino quebrincava de ser, de Georgina Martins

Cristovão Mascarenhas A escola, os professores e a família constituem-se como importantes pontes mediadoras da produção do conhecimento de mundo para as crianças. Partindo da ideia de que essa proposição seja verdadeira, é necessário atentarmos para o modo como definimos conceitos, ideologias e tendências para, dessa forma, não reproduzirmos verdades absolutas e fixas. Acreditamos que a literatura funciona como um espaço difusor do encontro de identidades, um mecanismo capaz de mostrar que existem diferentes possibilidades e que um indivíduo, por apresentar gostos, práticas e vontades diferentes, continua sendo digno de respeito. Nesse texto, proponho discutir como a ideia da sexualidade está sendo concebida na literatura infantil e juvenil, mais precisamente, no livro O menino que brincava de ser , de Georgina da Costa Martins. A partir de uma leitura a contrapelo da história, procuro observar de que forma se constrói a identidade do personagem principal e as incongruências ocorrida

“Isso é pra criança?!”

Mariana Rios Desde a sua estreia, em 2010, o desenho Hora de Aventura alcançou grande popularidade, sendo bem avaliado pela crítica e pelo público. Mas que público é esse? A história de Finn, o humano, e seu amigo Jake, o cão, parece ser mais uma daquelas inquietantes obras que levam grande parte das pessoas à frequente afirmação: “isso não é para crianças”. No Brasil, a classificação indicativa para a maioria dos episódios do desenho é de 12 anos, idade que, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), é o marco final do status “criança”. Contudo, Hora de Aventura é, indiscutivelmente, um sucesso que agrada o público infantil, bem como o juvenil e o adulto. Uma simples verificação mercadológica pode reforçar o fato: há, nas lojas, todo tipo de merchandising e produtos disponíveis – além de jogos eletrônicos, brinquedos e produtos para casa, são oferecidas roupas temáticas para todas as idades. A popularidade entre crianças, no entanto, é mais evidenciada, nã

Escrever com a voz

Ana Clara de Carvalho A literatura, em seu sentido amplo, compreende interseções e modos alternativos de pensar a realidade. Quando se trata de tradição da oralidade, considero pensar num modo de escrita com a voz, as ordens e as desordens que dominam a amplitude da linguagem. É por intermédio das histórias contadas por minha avó materna, Luiza Santiago, que escrevo aqui como forma de agradecimento por poder conhecer tanto do mundo numa linguagem única que é a dela. Em paralelo, procuro também discorrer um pouco sobre como a tradição do narrar mudou com o passar dos tempos e se insere numa união entre ficções e realidades. A tradição de contar histórias é desconexa e transmite uma repetição que, muitas vezes, não conseguem ser conclusas. Há algum tempo venho gravando em áudio as histórias que minha avó conta. Ela não entende muito de tecnologias e diz que não largamos “esse negócio que vocês ficam o tempo todo ‘assim’– e aponta com as duas mãos em direção aos olhos”, esse negócio é o c

Literatura infantil e juvenil: considerações da narrativa nos games

Antonio Caetano As discussões acerca da literatura, do que torna um texto literário e da suposta qualidade desse texto são velhas conhecidas dos estudos literários e vêm sendo repetidamente trazidas à tona. As análises, as teorias e as classificações que envolvem textos literários, gêneros literários e narrativas sempre se encontraram em constante mudança, principalmente na contemporaneidade. Sabemos, por exemplo, que a imagem comumente espalhada e enraizada na mente das pessoas sobre a literatura está intimamente ligada a livros antigos, estantes imponentes encontradas em bibliotecas e universidades conceituadas, bem como a longos poemas e aos romances clássicos atemporais. Entretanto, nunca se entrou em um consenso em relação ao que seria o verdadeiro conceito de literatura; essa dificuldade, portanto, persiste em outras áreas. Concordo com Derrida quando ele diz: Não há essência assegurada ou existência da literatura. Se você analisa todos os elementos de um trabalho literário, nunc