Curiosidades sobre Libras e seus registros gráficos
Por Paula Fernandes
“Quantas línguas oficiais tem o Brasil?”, “Qual a língua falada pelos surdos?”, “Em qual língua os surdos escrevem?”, “Ouvi falar em escola bilíngue para surdos... É por que eles aprendem a falar o português?”. São muitas as perguntas para as quais, infelizmente, não sabemos a resposta, seja por falta de acesso à informação ou pelo simples desinteresse, uma vez que, para muitos de nós, o surdo é “o outro”, é “o resto”.
Resposta da primeira pergunta: no Brasil, além do português como língua oficial, há também a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão entre as comunidades de pessoas surdas do país, o que garante a inclusão da Libras no sistema educacional brasileiro. Além delas, alguns munícipios oficializaram outras línguas, tais como o nheengatu e o tukano.
No que concerne à segunda questão, a língua oficial utilizada pela comunidade surda, no Brasil, é a Libras. Mas é importante salientar que, assim como, na França, falam francês, no México, espanhol, no Japão, japonês e, na Nigéria, inglês; a variedade da língua de sinais é vasta (na verdade, nem todos os países possuem uma língua de sinais oficial), e elas têm as suas variantes (nossos “sotaques”, por exemplo).
“Ah, então, se os surdos falam Libras, eles escrevem em Libras?”. Não. Quer dizer... Não necessariamente. No Brasil, a língua escrita oficial é apenas o português, o que significa que, para escrever documentos oficiais, o ato deve ser realizado na língua portuguesa. Portanto, a língua escrita ensinada na escola não só de ouvintes, como também de surdos, é o português. Já respondendo à última pergunta, é por isso que as escolas para surdos são bilíngues: elas ensinam em Libras, mas os alunos são alfabetizados no português, língua completamente distinta. Algo que não é tão fácil quanto parece, afinal de contas, essa mistura de letras que, para nós, ouvintes, forma as palavras que usamos na oralidade é, para eles, apenas uma mistura aleatória de letras – não necessariamente provida de sentido –, já que forma palavras da língua portuguesa, não de Libras. É como se falássemos o português, mas tivéssemos que escrever em russo – não sei vocês, mas eu nunca tive contato com a língua e ficaria completamente perdida na hora de fazer associações.
Ao perceber toda essa problemática de representar as línguas de sinais de maneira escrita com as palavras e o “alfabeto” das línguas faladas, diversos linguistas despertaram o interesse em registrar a língua de sinais. Foi então que, em 1974, a especialista em escrita de movimentos, Valerie Sutton, criou o SignWriting (escrita de sinais). Esse sistema
[...] utiliza símbolos visuais para representar as configurações de mão, os movimentos, as expressões faciais e os movimentos do corpo das línguas de sinais. Este “alfabeto” – uma lista de símbolos visualmente delineados – é utilizado para escrever movimentos de qualquer língua de sinais no mundo. (SUTTON, s.d.)
É válido ressaltar que, apesar de esse sistema existir, ele ainda não é aceito universalmente. Como dito anteriormente, a maioria dos países não aceita documentos escritos em SignWriting (o Brasil é um deles), mesmo que já existam livros, revistas e dicionários escritos através desse sistema, em Libras. Vemos, portanto, a necessidade de militar em prol do reconhecimento dessa escrita: essa é a maneira mais fácil de educar crianças surdas (alfabetizá-las, ensinar a gramática da língua etc.), além de ser um facilitador para vida do surdo (no que diz respeito a documentos e sinalizações em geral), pois, com a sua oficialização, caberá ao Estado garantir à comunidade o seu acesso.
Referências:
HALL, S. O Ocidente e o Resto: Discurso e Poder. In: ______. Projeto História : Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, [S.l.], v. 56, out. 2016. ISSN 2176-2767. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/30023/20834>. Acesso em: 25 nov. 2017.
KLIMSA, B.; SAMPAIO, M. e KLIMSA, S.. Escrita de Sinais I. In: FARIA, E.; ASSIS, M. (org.). Língua Portuguesa e Libras: teorias e práticas Vol. 4 – João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011
SUTTON, V.. Lições em Sign Writting. Tradução de Marianne Rossi Stumpf. Disponível em <http://www.signwriting.org/archive/docs5/sw0472-BR-Licoes-SignWriting.pdf> Acesso em: 25 nov 2017.
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