Os Neogramáticos

Considera-se o ano de 1878, a partir da publicação do prefácio da revista Morphologischen Untersuchungen, escrito por Hermann Ostoff e Karl Brugmann, como o início do movimento neogramático. Um dos seus principais representantes foi Hermann Paul, responsável por publicar o Prinzipier der Sprachgeschichte (1880), também conhecido como manual dos neogramáticos. (MATTOS E SILVA, 2008)


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A teoria neogramática possuía como principal postulado o de que as mudanças sonoras ocorriam através de um processo regular, as chamadas leis fonéticas. Outro conceito muito difundido nessa teoria é o da analogia, considerado capaz de impedir o funcionamento das leis fonéticas, uma vez que considerava que a mente humana podia interferir na mudança linguística, contrariando o padrão regular acima mencionado. É importante deixar claro que essa teoria já se encontra bastante defasada por se pautar em algumas bases consideradas obsoletas, como as que veremos a seguir, e pelo avanço concernente às teorias que a sucederam.


Ao considerar a língua como uma estrutura homogênea, Paul é tido como um dos primeiros estudiosos a isolar a língua do indivíduo como o objeto da investigação, o idioleto, e a fazer uma comparação desses grupos de línguas individuais (dialetos) que resultariam no que Paul chama de uso linguístico. Um problema apontado em relação a esse postulado é a barreira que se cria entre o indivíduo e a sociedade, uma vez que o objeto passa a ser tratado como inerentemente psicológico. Por esse motivo é que a teoria neogramática também é conhecida como socialmente agnóstica. Além disso, não fica bem fundamentado na teoria de Paul quais e quantos idioletos seriam utilizados para a observação que compõe um dialeto, além da homogeneidade linguística que já é considerada como algo irrelevante, pois não corresponde à realidade quando não contempla a variação, posto que desconsidera os fatores extralinguísticos. Adota-se, então, o conceito de heterogeneidade ordenada hodiernamente.


Ao falar das mudanças linguísticas, Paul trata de um princípio referente a uma maior comodidade dos órgãos fonadores, ou seja, a mudança ocorreria como forma do portador do idioleto encontrar um mecanismo mais confortável de fala para si. Este princípio, entretanto, suscita dois questionamentos: por que estas mudanças não ocorrem com todos os falantes, de forma que todos encontrem um padrão mais confortável, e por que estas mudanças não ocorreram antes. A isso se chama o problema da implementação, que se refere às razões para mudanças ocorrerem em certa língua numa dada época.


Ainda relativo às mudanças, é necessário salientar que Paul acredita que existe um processo de inconsciência, ou seja, o indivíduo não percebe que está realizando as mudanças e, na verdade, acredita que fala e continuará a falar do mesmo modo até o fim da vida. (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006)


Essas formulações, como era de se esperar, provocaram a crítica de inúmeros linguistas. O principal alvo foi o postulado das leis fonéticas, por se tratar de uma regra absoluta, sem exceções. Dentre alguns críticos, ressalta-se o Hugo Schuchardt. Embora sua concepção fosse de que o indivíduo era o ponto de referência, ao se opor à lei fonética dos neogramáticos “chamou a atenção para a imensa gama de variedades de fala existente numa comunidade qualquer, variedades essas condicionadas por fatores como o gênero, a idade, o nível de escolaridade do falante [...]”. (FARACO, 2011, p. 39)


Apesar de todas as inconsistências apontadas acima, é preciso esclarecer que a escola neogramática possui grande reconhecimento no cenário da linguística, inclusive os estudos de Hermann Paul inspiraram muitos diacronistas que o sucederam. O próprio Ferdinand Saussure remontou alguns postulados dos neogramáticos, principalmente no que tange à homogeneidade da língua como requisito para análise linguística, que a posteriori engendrou outras pesquisas significativas para o estudo das línguas humanas.


Por Letícia Rodrigues e Paula Fernandes

Comentários

  1. Olá! Estava estudando línguistica e suas variações para uma prova que terei no dia 11/05/2017 na faculdade. Gostaria de saber se vocês têm disponíveis mais materiais sobre os neogramáticos, o estruturalismo da língua e conteúdos acerca também, da Gramática histórico-comparativa. Há um bom tempo que busco algo profundo na internet, no fito de evitar gastar tanto dinheiro, mas não encontro nada... :(
    Poderiam me ajudar?

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  2. Oi, tudo bem? Infelizmente não temos mais material relacionado a esse assunto. De repente, você pode encontrar mais acerca do assunto na biblioteca da sua faculdade. Abraços!

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  3. podem me mandar a bibliografia desse texto?

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  4. No momento não disponho dela. No entanto, recentemente, esse assunto foi abordado no mural sobre os 100 anos do Curso de Linguística Geral. Vou te recomendar que visite esse link: https://petletras.wordpress.com/2016/12/18/referencias-100-anos-do-clg/ nele há algumas referências que tangem o que está contido no texto que te interessou.

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