NA LITERATURA



Antônio Caetano
Cely Pereira


Sabendo que o estruturalismo pode apresentar-se sob diversas disciplinas, tais como Antropologia, Sociologia, Psicologia, Literatura entre outras áreas das Ciências Humanas, o seu conceito é suscetível à mutabilidade. O linguista Ferdinand de Saussure, precursor do estruturalismo, em seu Curso de Linguística Geral, expõe a linguagem como um sistema de signos e elabora também dicotomias para explicação do funcionamento desse sistema: langue e parole; sincronia e diacronia; paradigma e sintagma; forma e substância; significado e significante; motivado e arbitrário. Devido, então, à natureza dos estudos de Saussure, passou-se a analisar a literatura de maneira sistematizada, separando significante do significado, pois o significado reflete uma percepção mais privada, influenciada pelo mundo exterior, o que levaria os estudos literários a serem vítimas de uma análise confusa, de cunho pessoal, complicando assim seu entendimento, ou seja, a mesma posição de Saussure, que sobrepôs a langue em relação a parole. O Estruturalismo estava alcançando os estudos literários.

O estruturalismo literário se destacou na década de 1960, na tentativa de aplicar à literatura os métodos e características da linguística. Isso se tornou prático quando os formalistas russos adotaram os princípios de Saussure. As ideias formalistas tomaram força em 1920, na Rússia, antes da revolução bolchevista, através de um grupo de críticos militantes que rejeitaram as doutrinas simbolistas que influenciavam a crítica literária da época; viam o texto literário estruturalmente e acreditavam que o conteúdo era apenas a motivação para a forma. Roman Jakobson, um dos formalistas russos, foi de suma importância para o estabelecimento da ligação entre o formalismo e o estruturalismo moderno. Jakobson auxiliou a poética que, segundo ele, tinha relação com o autoconsciente da linguagem. Na poética, o signo se desloca, a conexão de signo e referente muda e o signo tem certa independência como objeto de valor. Os teóricos da Escola de Praga potencializaram as ideias formalistas sistematizando-as dentro da linguística saussureana.

Os referidos movimentos eram afirmados pela teoria literária, que se identificavam com o formalismo e criticavam o bom senso (visão anteriormente pregada pela literatura de um senso comum, uma verdade única). Um dos posicionamentos da teoria literária era o questionamento da mimèsis, que são as relações entre literatura e a realidade, pois os teóricos literários não acreditavam em um reflexo da realidade, mas sim em um código que, entre tantos outros, pode representar a realidade. Dessa forma, a teoria literária
insistiu na autonomia da literatura em relação à realidade, ao referente, ao mundo, e defendeu a tese do primado da forma sobre o fundo, da expressão sobre o conteúdo, do significante sobre o significado, da significação sobre a representação, ou ainda, da sèmiósis sobre a mimèsis (COMPAGNON, 1999, p. 97).

Há de se reconhecer, portanto, que a partir do Curso de Linguística Geral muitos trabalhos foram realizados e puderam produzir reflexões em diversas áreas. Na Literatura não foi diferente: os estudos literários passaram a ser analisados sistemática, crítica e interdisciplinarmente, evitando o senso comum. Portanto, por mais que atualmente os estudos literários estejam distante dos interesses estruturalistas, muitas das categorias analíticas utilizadas, direta ou indiretamente, têm influência do pensamento saussuriano.

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