NA ANTROPOLOGIA



Isadora Matos
Letícia Carvalho


Pensar o Estruturalismo é, necessariamente, pensar áreas diversas das ciências humanas do séc. XX. A associação imediata a F. de Saussure (1857 – 1913) e ao seu póstumo livro Curso de Linguística Geral – que aqui comemora seu centenário – é imediata, devido à forte influência de seus fundamentos teóricos e pelo título de inaugurador do pensamento estruturalista que o suíço carrega. O linguista articula novidades no que se entende por linguagem, recusa o seu entendimento como uma lista de palavras que nomeiam as coisas do mundo, os fortes aspectos históricos dos estudos de filologia comparada da época e apresenta a langue como fato social, um sistema de signos que consiste na dicotomia indissociável significante (materialidade acústica) e significado (conceito), sistema este que deve também ser investigado como social e de forma sincrônica. O estabelecimento das dicotomias, langue/parole, sincronia/diacronia, eixo paradigmático/eixo sintagmático e significado/significante, é a metodologia aplicada por Saussure. Compreender as estruturas abstratas e suas relações interdependentes, demonstrando que elas possuem valor linguístico quando contrastadas com outras, seria a forma de indicar uma possível compreensão da totalidade, comum a todo o sistema.

Essas ideias foram difundidas nas diversas áreas das ciências humanas. Aqui, visamos apontar as relações da Linguística saussuriana com a Antropologia. Encontrar propriedades universais em diferentes culturas é o principal objetivo da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, e, para isso, ele utiliza-se do método estrutural. Através da observação de populações autóctones em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil, Lévi-Strauss percebe situações que se repetem e, portanto, servem como indícios de estruturas profundas/inconscientes das sociedades.


A partir das análises de práticas individuais, Lévi Strauss interpreta um subsistema da cultura: as relações de parentesco. Assim como na língua, os elementos culturais possuem valor que é resultado da presença simultânea de outros elementos. Para o antropólogo belga, as relações de parentesco são como os fonemas, unidades que só ganham significação quando integrados em sistemas de oposição como pai/mãe, pai/filho. Logo, o valor de pai é estabelecido por algo que lhe é externo e é variável, seu valor em relação a mãe é diferente de quando contrastado com filho. A observação sincrônica (mais uma vez, seguindo os passos do Curso de Linguística Geral) das relações de parentesco conduz a antropologia estrutural à estrutura profunda do tabu do incesto, na qual relações de aliança só podem ser realizadas entre pessoas que não possuem ligação de consanguinidade ou filiação. O tabu do incesto aparece em várias sociedades que nunca tiveram qualquer tipo de contato, apontando para sua propriedade universal.


Lévi-Strauss trouxe reformulações ao método estruturalista e, a partir de ferramentas da linguística, inaugurou uma nova forma de pensar os estudos antropológicos. Junto a ele, outros estruturalistas, como Lacan, Jakobson e Barthes, até hoje, permanecem sendo estudados nas áreas das ciências humanas.

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