Eu me chamo Antônio

Antônio é o personagem de um romance que está sendo escrito e vivido.

A mente por trás de Antônio é Pedro Gabriel. Tudo começou em outubro de 2012, quando ele fez a página Eu me chamo Antônio, no Facebook, a fim de divulgar sua poesia feita nos guardanapos do Café Lamas, um tradicional bar do Rio de Janeiro. Os versos em guardanapos se proliferaram de forma abrupta e nunca antes imaginada, segundo o autor. Escrevendo poemas e minitextos, conquistou até hoje cerca de 913.000 seguidores. Pedro Gabriel, que tem 29 anos e é redator publicitário, conta que numa noite de outubro parou no Café e, aleatoriamente, rabiscou num dos guardanapos: “Primeiro, encanto. Depois, desencanto. Por fim, cada um pro seu canto.” Ao fim, fotografou sua obra com a câmera do celular e postou na rede social, o que repercutiu mais que o imaginado. Pedro recebeu cantadas, pedidos de casamento e até propostas de transformar os seus versos em música.


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Em 2013, lançou seu primeiro livro, Eu me chamo Antônio, com 90% de material inédito e produzido, em suma, no Lamas, e sobre o qual falaremos agora. O livro é divido em dez partes, que apresentam histórias perpassando a descoberta, o encantamento, a paixão, a dor da perda e a volta por cima. Com pequenos versos, Pedro sutiliza e agoniza sentimentos e expõe a realidade de forma diferente e criativa – o que conquista a maioria dos leitores. A leitura rápida e fácil faz com que o leitor se imagine no papel do personagem. O jogo de palavras, a forma dos versos, os desenhos, tudo traz um sentido diferente à poesia, desprendendo-a do “padrão” há muito visto pela sociedade.


Os guardanapos presentes no livro possuem grandes doses de irreverência e de realidade como pouco se vê, sendo Pedro Gabriel amante de Leminski e outros poetas que rompem com os padrões canônicos da forma poética. Sobre o livro, as subdivisões têm títulos que fazem o leitor indagar-se acerca de questões que vão sendo respondidas no decorrer do que é encontrado na obra, por exemplo: “Fragilidade brutalidade”, “Coragem”, “Futuro, apresente-se”, “Encantado” e tantos outros que se desenrolam a partir da ideia central de cada verso. Percebe-se, com isso, que os versos têm uma linha de pensamento e não são aleatórios (como muitos achavam), fato revelado pelo emprego dos títulos nas subdivisões, que acabam por indicar uma linha interpretação para o leitor.


Exemplificando o que foi dito acima, eis alguns versos de um dos temas do livro, chamado “Liberdade”:




Você chegou maçã e salva
agora podemos pecar em qualquer paraíso




Me amasse como se eu
te amasse também




Ser feliz é sempre inédito



Diante desses e de outros versos que compõem o livro, vê-se a abordagem a temáticas corriqueiras, que podem não ter sido associadas pelo seu leitor a seu cotidiano, o que torna a poesia de Antônio (e todas as outras poesias, em certa medida) uma forma de se aproximar da sua própria realidade, o que pode causar estranhamento e alívio, ao mesmo tempo, nas pessoas.


A imaginação de Pedro Gabriel vem encantando os leitores e se agarrando em guardanapos cada vez mais; a leitura é excelente e leve, trazendo à tona um campo da poesia que, por muitos, é vista como superficial. Pelo contrário, a ampla gama de interpretações e colocações a partir dos poemas de Pedro permite caminhar pela poesia e olhar o mundo com mais serenidade e atenção. Até porque, segundo ele, “a vida é a fragilidade de um barquinho de papel na brutalidade das ondas do amar”.


por Naianara Sant'Ana e Paula Fernandes

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