A noiva da fonte
Apesar de haver muitos discursos que insistem em manter a literatura popular como uma produção menor, subalterna, é preciso considerar toda ideologia subjacente a esta concepção e compreender o âmbito literário como um território em que o poder é legitimado e agenciado por alguns grupos dominantes. Ao longo da história, algumas visões puristas e equivocadas foram disseminadas com intuito de menosprezar as produções da cultura popular, negando a estes textos quaisquer possibilidades de reconhecê-los como obras literárias.
O conto trata-se de um dos gêneros que também podem ser encontrado na cultura popular, e, portanto, não pertence apenas à literatura canônica, como alguns discursos insistem em afirmar. Estas narrativas são realizadas na oralidade e comportam uma diversidade de temas que possibilitou que a alguns estudiosos, sobretudo os folcloristas, estabelecessem uma classificação em: contos de animais, de exemplo, maravilhosos ou de encantamento, religiosos, humorísticos ou jocosos, novelescos ou de amor, entre outros.
O conto escolhido para esta análise possui o seguinte título: “A noiva na fonte” e foi retirado do livro Contos Folclórico brasileiros, organizado pelo poeta e folclorista Marco Haurélio, no qual este autor reúne um conjunto de narrativas colhidas da oralidade para compor uma coletânea de textos da literatura popular. Este conto foi narrado pela contadora Jesuína Pereira Magalhães.
“A noiva na fonte” foi classificado pelo referido autor como humorístico ou jocoso. “A noiva na fonte” conta – nos a história de uma moça que teve um noivo escolhido por seus pais e, ao aproximar-se a data do casamento, a noiva vai até uma fonte buscar água, mas demora tanto que a sua mãe fica preocupada e vai até lá saber da filha. Chegando lá, a mãe pergunta o porquê da demora da filha, então, a moça responde que demorou porque sabia que ao casar teria filhos e estava parada na fonte tentando pensar no nome que daria ao seu futuro filho. Ao ouvir a resposta da filha, a mãe também permanece imóvel refletindo sobre qual nome daria ao neto que seria o fruto do casamento que nem havia acontecido.
O pai estranhando a demora da filha e da mulher foi até a fonte, mas permanece junto com as duas a pensar o nome do possível neto que teria.
O noivo chega à casa da noiva e é informado por uma das irmãs de sua futura esposa estaria na fonte junto com seus pais. Ao chegar lá, o homem pergunta por que todos estavam lá parados e ao ouvir a explicação, se aborrece com os três e vai embora, desistindo do casamento.
Um das questões que podem ser evidenciada, a partir da leitura deste conto trata-se do desinteresse da moça em casar-se com o noivo escolhido por seus pais. Este fato nos revela o conto como um uma narrativa, através da qual podemos verificar os resquícios de uma sociedade patriarcalista, onde a mulher era obrigada a se casar, na maioria das vezes contra a sua vontade e com pretendentes desconhecidos e escolhidos por seus pais. Assim, podemos compreender que o conto, assim como outras produções da literatura popular e canônicas como um todo, também está permeado desses discursos em que a mulher ocupou por muito tempo espaços subalternizados.
O motivo da sua demora na fonte funciona, de alguma forma, como um pretexto para evitar o casamento indesejado. A desculpa dada pela noiva contribui para que haja uma interdisciplinaridade, uma aproximação desta com o conto de Sherazade, que ao contar infindáveis histórias ao seu esposo e algoz, esta histórica personagem consegue adiar infinitamente a sua morte. Ao permanecer pensando constantemente no nome do futuro filho que teria, mas, sobretudo, ao manter os seus pais refletindo sobre esta possibilidade, a moça consegue escapar do noivo e do casamento arranjado pelos pais.
É interessante pensar que o motivo encontrado pela noiva para fugir do compromisso também nos permite verificar uma coerência do pretexto encontrado por ela para não se casar, tendo em vista a noiva ficar parada na fonte refletindo sobre a escolha do nome do seu possível e futuro filho, ou seja, ela se utiliza da própria maternidade para adiar e desistir. Uma das condições que é atribuída às mulheres pautadas numa suposta “naturalidade”, da qual elas não teriam escolha, opção, ser mãe seria algo predestinado, do qual não se poderia fugir.
Dessa forma, apesar de se pensar à primeira leitura que a noiva seria uma “tonta” ou até “louca”, ao ficar por tanto tempo parada a pensar o nome do filho (que ainda nem existia), como até pressupõe o próprio organizador Marco Haurélio, sobretudo se considerarmos a categorização feita pelo referido folclorista ao considerá-lo do conto em humorístico, percebemos o quanto esta mulher foi astuta ao livrar-se de um casamento inoportuno trazendo a maternidade (uma das condições considerada inerente à mulher) como discurso no qual a sua recusa está fundamentada.
O conto escolhido para esta análise possui o seguinte título: “A noiva na fonte” e foi retirado do livro Contos Folclórico brasileiros, organizado pelo poeta e folclorista Marco Haurélio, no qual este autor reúne um conjunto de narrativas colhidas da oralidade para compor uma coletânea de textos da literatura popular. Este conto foi narrado pela contadora Jesuína Pereira Magalhães.
“A noiva na fonte” foi classificado pelo referido autor como humorístico ou jocoso. “A noiva na fonte” conta – nos a história de uma moça que teve um noivo escolhido por seus pais e, ao aproximar-se a data do casamento, a noiva vai até uma fonte buscar água, mas demora tanto que a sua mãe fica preocupada e vai até lá saber da filha. Chegando lá, a mãe pergunta o porquê da demora da filha, então, a moça responde que demorou porque sabia que ao casar teria filhos e estava parada na fonte tentando pensar no nome que daria ao seu futuro filho. Ao ouvir a resposta da filha, a mãe também permanece imóvel refletindo sobre qual nome daria ao neto que seria o fruto do casamento que nem havia acontecido.
O pai estranhando a demora da filha e da mulher foi até a fonte, mas permanece junto com as duas a pensar o nome do possível neto que teria.
O noivo chega à casa da noiva e é informado por uma das irmãs de sua futura esposa estaria na fonte junto com seus pais. Ao chegar lá, o homem pergunta por que todos estavam lá parados e ao ouvir a explicação, se aborrece com os três e vai embora, desistindo do casamento.
Um das questões que podem ser evidenciada, a partir da leitura deste conto trata-se do desinteresse da moça em casar-se com o noivo escolhido por seus pais. Este fato nos revela o conto como um uma narrativa, através da qual podemos verificar os resquícios de uma sociedade patriarcalista, onde a mulher era obrigada a se casar, na maioria das vezes contra a sua vontade e com pretendentes desconhecidos e escolhidos por seus pais. Assim, podemos compreender que o conto, assim como outras produções da literatura popular e canônicas como um todo, também está permeado desses discursos em que a mulher ocupou por muito tempo espaços subalternizados.
O motivo da sua demora na fonte funciona, de alguma forma, como um pretexto para evitar o casamento indesejado. A desculpa dada pela noiva contribui para que haja uma interdisciplinaridade, uma aproximação desta com o conto de Sherazade, que ao contar infindáveis histórias ao seu esposo e algoz, esta histórica personagem consegue adiar infinitamente a sua morte. Ao permanecer pensando constantemente no nome do futuro filho que teria, mas, sobretudo, ao manter os seus pais refletindo sobre esta possibilidade, a moça consegue escapar do noivo e do casamento arranjado pelos pais.
É interessante pensar que o motivo encontrado pela noiva para fugir do compromisso também nos permite verificar uma coerência do pretexto encontrado por ela para não se casar, tendo em vista a noiva ficar parada na fonte refletindo sobre a escolha do nome do seu possível e futuro filho, ou seja, ela se utiliza da própria maternidade para adiar e desistir. Uma das condições que é atribuída às mulheres pautadas numa suposta “naturalidade”, da qual elas não teriam escolha, opção, ser mãe seria algo predestinado, do qual não se poderia fugir.
Dessa forma, apesar de se pensar à primeira leitura que a noiva seria uma “tonta” ou até “louca”, ao ficar por tanto tempo parada a pensar o nome do filho (que ainda nem existia), como até pressupõe o próprio organizador Marco Haurélio, sobretudo se considerarmos a categorização feita pelo referido folclorista ao considerá-lo do conto em humorístico, percebemos o quanto esta mulher foi astuta ao livrar-se de um casamento inoportuno trazendo a maternidade (uma das condições considerada inerente à mulher) como discurso no qual a sua recusa está fundamentada.
*Por: Kathiuscia Santos
Comentários
Postar um comentário