Estágio de Arthur - PARTE 2
Difícil rememorar algo depois de passado algum tempo. É mais ou menos o que sinto para falar dos meus períodos de observação e co-participação, no que me dedico a falar nesta postagem. Meu primeiro momento de entrar em uma sala-de-aula, no Alfredo Magalhães, começou na segunda ou na terceira semana de aula deste semestre e a regência começou há mais ou menos um mês atrás. Mesmo assim, vou tentar relatar minhas impressões aqui, visto que algumas coisas marcam e, ademais, tenho um relatório a fazer e será muito útil treinar essa memória. Mas antes de começar, devo alertar que não faço qualquer comentário que não seja influenciado pelo fato de que estou atuando em uma escola pública e penso nisso o tempo todo, até porque, via de regra, esse é o alvo de estágio obrigatório de qualquer licenciando da UFBA.
Minhas primeiras impressões sobre a escola foram boas. A estrutura física da escola está em boas condições; não são aquelas condições que encontramos ou esperamos encontrar num colégio dito "de qualidade", mas não encontrei, no momento que entrei lá e nem agora, uma escola sucateada. O espaço dos corredores é amplo, as salas possuem isolamento acústico quase total - a menos que os alunos saiam arrastando as carteiras todas ao mesmo tempo - e o banheiro dos alunos, na única vez em que entrei lá, estava limpo. A administração da escola demonstra uma real preocupação com o trabalho que fazem lá dentro. Obviamente, nem tudo são flores: as TVs-pendraive geralmente não funcionam, os livros didáticos - dos quais muitos professores demonstram depender para dar aula - não chegam. Há, também, um emaranhado de (pré) adolescentes com os hormônios borbulhando e ansiosos por agito e poucas pessoas para lidarem com isso. Cansei de ver o vice-diretor da escola resolvendo pepinos de alunos que brigaram ou que estavam fora da sala na hora da aula. Recadinhos para os pais aqui, bronca ali, e a escola vai levando.
Nem a observação nem a co-participação se deram sempre na mesma turma. Mas todas foram com as mesmas duas professoras: Teresa e Selma. Assisti a pouquíssimas aulas da discplina chamada de Redação. A maioria, foi da disciplina chamada Português. O que constatei no período de observação foi o óbvio, que todos já sabem: trabalho de dissecação da língua, com sentenças soltas e que em nada correspondem à realidade dos alunos; estudo do texto com pouca diversidade de gêneros, e sem nenhum estudo do gênero trabalhado. A grande novidade é que a professora, ao contrário do que vi muitas vezes nas escolas públicas, demonstram uma real preocupação com o aprendizado dos alunos e se esforça bastante nesse sentido. Além disso, em momento nenhum reclama deles ou os culpa pelas frustrações da profissão; pelo contrário, demonstra uma ótima relação com os alunos e muita identificação e satisfação com o que faz ou, pelo menos, com aquele momento da sala-de-aula.
Se essas são as características que encontrei na escola, então essas serão as características em que teria de atuar antes da regência. Minha co-participação, em geral, resumiu-se a colaborar aqui ou ali com as professoras fazendo a chamada, anotando alguma coisa no quadro ou passeando pela sala para dar algumas orientações aos alunos sobre alguma atividade feita em sala. Mas o momento mais marcante começa na revisão da prova e termina na devolução das provas corrigidas e com nota. Assunto principal dessa prova: Orações Subordinadas. Lá estava eu ajudando a professora a revisar o assunto, tentando fazer com que os alunos entendessem a diferença entre a objetiva direta e a predicativa. Fracasso! Ninguém entendia nada. Ninguém conseguia fazer qualquer relação. Uma prova em vista e poucos tinham alguma ideia do assunto. Dia da prova: a turma comumente quieta estava agitada e tensa. A prova constava de uma questão de interpretação de texto nos moldes que descrevi acima e alguns assuntos de gramática. Desses, obviamente, Orações Subordinadas foi o que mais gerou canetadas em formato "E". Se essa prova valesse 50% das notas da unidade, choveria notas baixas; para a felicidade dos alunos, ela só valia 40% e as notas, em geral, foram acima de 8,0.
Notas dadas, 1a unidade fechada, começaria meu período de regência. Minha missão e orientação - a mim atribuídas por Dinéa, pela universidade, pelos PCNs e pelas minhas próprias concepções de ensino-aprendizagem-avaliação - é fazer diferente. Ou, pelo menos, mostrar aos alunos que pode ser diferente: diferentes concepções de língua, diferentes métodos de ensino e de avaliação. Nesses últimos instantes, surgiu a dúvida se isso seria tão possível como eu, até então, achava que fosse. Vi-me tão tenso quanto aqueles alunos na hora da prova.
*Por: Arthur Vargens
*Por: Arthur Vargens
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