A produção de Santiago Nazarian




     Quem é Santiago Nazarian? Atualmente, um escritor paulista, 32 anos. Antes trabalhou como publicitário, garçom em bar inglês, body artist, redator de conteúdo adulto, além de tradutor, função que exerce constantemente.


        É tido por entendidos em literatura como uma das grandes promessas na nova safra de escritores, embora o mesmo não seja um iniciante: no seu currículo figuram cinco romances, crônicas para jornais e revistas de ampla circulação, assim como contos em antologias nacionais e internacionais (segundo o próprio, possui seu trabalho “desovado” em antologias por quase toda a América Latina). Em relação à publicação, foi um dos três autores (juntamente com João Paulo Cuenca e Chico Mattoso) escolhidos para representar o início das atividades da editora gringa Planeta, na sua então nova sede brasileira. Os autores foram levados a Parati com a tarefa de produzir, cada um, uma pequena narrativa que envolvesse aquela cidade. O trabalho final pode ser encontrado nos três contos da obra “Parati Para Mim”, lançada em 2003.

          Pouco antes de “Parati Para Mim” vir a público, Nazarian já estreava em romance: “Olivio”, cuja publicação (por uma editora de pequeno porte, Talento) se deu pelo fato de o autor ter sido um dos contemplados com o prêmio Conrado Wessell de Literatura. O romance é caracterizado por um personagem homônimo cheio de dúvidas e com decisões a tomar, em meio ao seu trabalho de bancário. A obra foi recebida calorosamente pela crítica, que destacou a forma peculiar de escrita. Nessa linha, o próximo título é “A Morte Sem Nome”, texto em que, Lorena, a personagem principal, comete um assassinato a cada capítulo; no entanto não se trata de uma obra de contos. A partir dessa obra, nota-se certa influência do escritor americano Bret Easton Ellis.

          Em relação a influências, é sabido, através do blog que o autor mantém desde a publicação de “Olivio”, que autores como Oscar Wilde, Dennis Cooper, Caio Fernando Abreu, Lúcio Cardoso, ou até Bram Stoker contribuíram para sua formação, mas tal influência não se limita somente a livros: trabalhos musicais como os de Suede, Grace Jones, Rufus Wainwright e Marina Lima estão no mesmo caldeirão. Importante informar que a inspiração para o romance “Mastigando Humanos”, que a priori seria um conto, veio de uma foto específica da fotógrafa americana Sally Mann.

       Sobre a diversidade dos artistas citados, é natural para alguém cujo pai é artista plástico e a mãe uma poetisa que trabalhava na biblioteca de José Mindlin; eles, Guilherme de Faria e Elisa Nazarian, respectivamente.

        Tanto ecletismo resultaria numa literatura esquisita aos olhos do grande público, ou mesmo daqueles que possuem uma visão conservadora. Não é cabível tentar equiparar Nazarian a Milton Hatoum, este, laureado com Jabutis e outros prêmios por uma produção de apelo mais conservador, enquanto o outro, por exemplo, trabalha com o artifício psicodélico e o atípico, vide o caso do romance “Mastigando Humanos”, em que um jacaré conta sobre suas andanças, paixões, práticas. Nazarian estaria mais inclinado a, talvez, João Gilberto Noll, outra de suas referências. Para escrever “Mastigando", o autor precisou fazer pesquisas sobre répteis, além de um trabalho de cuidado e observação do iguana que criava em seu apartamento.

          "Feriado de Mim Mesmo”, o terceiro romance foi escrito em menos de um mês e tem como espaço um apartamento, “O Prédio, o Tédio, e o Menino Cego”, o mais recente, lançado pela editora Record, embora escrito num período mais extenso, é ambientado num prédio, como já entrega o título. “Feriado” trata da vida de alguém que mora sozinho e trabalha em casa, algo um tanto biográfico, considerando que autor possui a mesma característica. 

        Expor a vida pessoal não é problema para o autor: em “Jardim Bizarro” (antes “Amor e Hemácias”), blog que atualiza três vezes por semana, pode-se encontrar resenhas de livros, filmes, discos, manuais de como cozinhar, roteiros de viagem, táticas de sobrevivência, tudo isso relacionado às experiências próprias; Nazarian não considera o que põe, ou melhor, “desova” no blog como literatura; ali é desenvolvida uma relação com o público leitor, além dos amigos, que trabalham com arte ou tenham interesse em ver o que ele anda fazendo. Outras atividades praticadas pelo autor (além da criação literária) ainda se estendem à criação de roteiros para cinema (embora o livro “Feriado” não tenha sido filmado ainda, há indicações que o roteiro está em produção), leitura crítica e criação de orelhas para livros de outros, além de crônicas/impressões para editoriais de moda, como os do SPFW (São Paulo Fashion Week).

          A maneira de produzir de Santiago Nazarian e tão variada quanto sua obra, sua vida.


Texto escrito por Thiago S. Cardoso

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